por Convidad Qua Fev 24, 2010 12:12 am
Éris, a discórdia jamais pára. Alimenta-se do pior que há em cada indivíduo. Procura vestígios daquela feiúra típica no homem e encontra forças... Ou quando nada encontra se contenta em criar – maldita criatura. Tanto pode uma vez que sua existência só poderia ocorrer como fruto da imaginação e malevolência humana. É apenas uma palavra, uma entidade criada para justificar nossa miserabilidade. Acreditar-se-á que causou a guerra de Tróia, quem mais sabe o que mais dedilhou com suas falanges opacas de inveja [?], aliás, o que não teria tocado? Provavelmente não passamos um único dia sequer sem notarmos sua presença e quem dirá que nunca se sentiu possuído por tal espectro? Ponderemos, pois talvez, talvez a discórdia nem sempre seja dos males o pior, embora seja capaz de revelar o caráter do indivíduo ou revelar nefastas criaturas particulares escondidas nas mais profundas câmaras da alma humana.
Dane-se a pobre maçã solitária e fraca. Sua força jorra através de torrente inenarrável. Éris, a discórdia jamais pára. Inerte a mãe dos problemas está sempre planejando. A castigada deusa se flagela em lamúrias em sua sela sem grades e apenas adornada em treva. Ecoa pelas paredes invisíveis o ódio que brada. O mundo do lado de fora respira aliviado sem sua presença. Helena retornou à Esparta e Páris morreu como mendigo – fim. Mas... Éris, a discórdia jamais pára.
Excluída, ajoelhada em um pequeno espaço com o rosto inchado pelas lágrimas afundado entre as mãos. Arranha-se, flagela-se. Por instantes de incontrolável devaneio enlouquecido se esquece do que és. Não apenas homens enlouquecem nas prisões vazias de luz, mas deuses também. Sem a concepção de tempo um dia lhe parecia eterno naquela negritude sem paredes, sem vida. A desgraçada com as forças celestes grita incessantemente como em um desejo louco de estraçalhar com a violência do som as extremidades invisíveis que lhe continha.
Não a fúria... Admitimos apenas como a custosa necessidade e nada mais de que exista a discórdia em nosso mundo. Assim, a pobre alma enclausurada por mera obrigação existencial conseguiu tocar o mundo afora com seus dedos impuros e lhe castigar com nefastas chagas. Ou seja, não importaríamos em contar que Éris teria gritado pela eternidade, tentando escapar, mas a pura realidade é: esta precisa galgar pelo mundo – querendo ou não –, logo, simplesmente ‘’escapou’’. Fragilizada a divindade deixou que seu veneno fluísse à espera de alguma marionete.
Eis o momento que adentra nossos mitológicos heróis. Não apenas Atlas, o titã da abóbada, mas Jaú e Berengue estavam incumbidos de realizar a vontade de Abel. Na realidade, o que havia conduzido Atlas àquela paisagem era o veneno sádico de Éris. O mesmo se deu com Jaú que acreditando estar buscando o paraíso para seu pai caminhava em direção à armadilha celeste.
Ágil como aquele belíssimo felino guardião Jaú se deslocava rapidamente. Conduzido pelo que talvez apelativo seja afirmar como ‘’réquiem’’. É necessário de nossa parte mencionar que o jovem coroa não estava no que se pode dizer como ‘delirando’ ou sem as faculdades próprias. Não estava com síndrome de Dom Quixote, apenas caminhava: esperançoso que encontraria paraíso quando se encontraria com inferno. Este cada vez mais admirado com a concretização de Abel se animava e investia com mais velocidade. Percorreu longas distâncias em pouquíssimo período de tempo. Felizmente (e que bom assim podemos afirmar) o egocêntrico coroa chegou tarde. O fruto proibido já havia feito sua vítima: Atlas. Mas... Como a discórdia é poderosa e castiga o homem com o que lhe existe de pior.
Inicialmente não saberíamos dizer se o que moveu o belo rapaz de ruivos cabelos foi a inveja de ver seu irmão (e também rival) possuir o fruto que segundo havia ouvido poderia desfrutar e trazer as esperanças de Abel. Curioso. De um pequeno rochedo que estava saltou para baixo e à frente de Atlas – encarando-o como consumido pela ira. Ah, talvez agora estivéssemos vendo-o com a síndrome de Dom Quixote ou não. Só sabemos que embora visse as coisas realmente verídicas as interpretava de forma errônea e dava ares a imaginação. Invejando o guerreiro de Karina pelo feito e pela possível glória que lhe recairia através do próprio pai o rapaz recheado de raiva a invocou na violenta frase autoritária que se seguiu após apontar-lhe o dedo:
- Maldito seja, Atlas. Larga esta maçã... É tão indigno de compartilhar o solo com os vermes que me vejo forçado em lhe devorar o corpo se não me acatar.
Pobre criança. Belíssima Éris. Sem querer havia captura duas marionetes. Jaú irritadiço com a conquista do colega e os efeitos da cólera da discórdia ficou cego. Possivelmente o mesmo ocorreria com Atlas, vendo no amigo um rival contra sua glória, um perigo contra suas ambições – quando na realidade lamentavelmente ambos lutavam com a mesma finalidade: satisfazer seu deus. Não era o destino cruel colocando aqueles dois irmãos contra o outro, mas sim Éris: puramente sádico que no interior da maçã se deleitava com a situação e já contava com a vitória, pois, não importasse qual dos dois levaria a maçã, mas sim quando.