O que se passou após Jaú, o amante da lua se virar e retornar (tentar) para o lado de Abel foi tão intenso, que somos obrigados a apresentar os pormenores do que se sucedeu. Ei-los: De fato, Jaú não possuía consciência da ambivalência de Saga de Gêmeos. Este, por sua vez, estava inexpressível, um verdadeiro marmóreo. Na realidade, o pouco daquela lamúria que transpassou seu espírito e violou seu belíssimo semblante polido foi imperceptível para o vassalo de Abel. Contemplar as lágrimas daquele homem e admirar seus demônios é um espetáculo inenarrável ainda que: não é de nossa intenção fazê-lo, mas nos permitimos respeitosamente a admirar, pois é de uma beleza única. O leitor que de seu assento é capaz de compreender a magnitude dos sentimentos de Saga e sua gigantesca força para se “libertar” dos grilhões de uma vida errônea, além de lutar pela justiça, não pode cobrar o mesmo de Jaú. Este – como já dito – desconhecendo completamente a maré violenta que golpeava o espírito de Saga caminhava embora. Jaú arrogante por natureza e vigoroso pela idade possuía aquele típico comportamento adolescente. Aliás, frisemos: que embora desconhecida, sua idade não passava dos vinte anos. Logo, além de não possuir aquele conhecimento que caminha ao lado das experiências da vida, Jaú sentia-se divino. Imaginemos um adolescente típico, com sua alma selvagem, arrogante, dona da verdade, rebelde e todo aquele exército curioso de elementos que assolam a alma de um indivíduo nesta época curiosa de sua vida. Jaú era um adolescente típico, mas diluído na alma de um Titã. O típico adolescente, com suas armas se julga tão invencível e portador da verdade. Agora, imaginemos quão delicado é nossa situação, leitor, quando devemos traçar uma linha, ao menos próxima, dos raciocínios de um indivíduo como este conhecido por amar a lua. Aliás, Jaú além de tudo era incapaz de se aquietar. O espírito invadido por uma prazerosa sensação de vitória bradava incessantemente. Então, era impossível que compreendesse o que fosse daquele indivíduo de gêmeos. Entretanto, havia algo que compreendia e muito bem – o perigo. Não o perigo em seu conceito básico, pois acreditamos cegamente que o coroa do sol ali à frente era incapaz de sentir tal sensação. Além de seu espírito invencível, possuía em seu ombro o toque e repouso reconfortante da proteção de seu pai, o grande senhor Abel. Mas... Sentir aquele cosmo eclodindo de tal forma evidenciava algo “incomum”. Aquela formidável massa de vida inorgânica, com sua beleza peculiar almejava como os homens sonhavam em voar, como os pássaros, dilacerar a carne do felino do sol – ao menos era o que se podia interpretar. Na realidade, Jaú mesmo de costas parou para escutar as palavras de Saga e no momento que elevou sua cosmo-energia às estrelas: pôde se preparar. Não que em sua cabeça formasse estratégias, mas apenas sentir-se precavido, pois um animal selvagem sente algo incomum. Aliás, não é necessário ser gênio ou super sensitivo para compreender a natureza da atitude de Saga. Aquela pequena flâmula – já descrita inicialmente narrando à aparição do coroa se transmutou rapidamente para uma “criatura” flamejante e belíssima. No entanto, o cosmo de Jaú não se fez magnânimo – longe disto, pois sequer teve tempo para tal. Apenas sentiu sua cosmo-energia arder através de sua epiderme e ser contornada por uma vivida película alaranjada, muito semelhante com o contorno que há no próprio sol. Mas, nisto, já pôde ouvir a monstruosidade animalesca daquela massa engolindo rusticamente o terreno que ia deixando para trás. Então, como um animal que preserva a própria vida e quase como por instinto saltou de frente para frente, como se voasse. De fato, Jaú desejaria se confrontar com aquela técnica, mas dado o momento era completamente inviável. Na realidade, tudo foi muito rápido para um olho humano, mas por nós, capacitados em fazê-lo minuciosamente podemos descrever a graça de sua esquiva. Esta se constitui basicamente da seguinte maneira: Jaú vendo-se sem tempo para reação eficaz encontrou a única saída no que concentra o ato de realizar um salto à frente, mas de peito e com os braços atirados para frente, como se voasse. Abrindo espaço – pouco – entre si e o próprio golpe. As mãos devidamente abertas e firmes agarravam-se ao chão quando este “caía de cabeça” por conta do salto. Mas mal teve tempo em permanecer ereto de ponta cabeça e as mãos e braços em demasiado trabalho físico pesado impulsionaram seu corpo para cima/frente (por conta da ainda impulsão do salto anterior), fazendo-o rodopiar várias vezes no próprio eixo para enfim, saindo da linha do golpe voltar ao chão, porém desta vez de frente ao audaz cavaleiro de ATENA. O leitor mais cuidadoso teria visto que no segundo que o corpo era arremessado para frente/cima o “Ken” de Saga passou raspando a superfície de Jaú arrancando-lhe além de boa quantia de cabelo numerosos filetes de sangue. Estes filetes se desprendiam tão rapidamente no então rodopio do felino que borrifavam incessantemente para todos os lados. O filho de Abel então transtornado com a situação que lhe atacava diretamente o próprio ego se sentiu ultrajado. O semblante agora enraivecido era banhado por pequenos riachos de sangue que se desprendiam de sua testa e percorriam suas delicadas linhas de expressões. É difícil para nós que mesmo tendo a oportunidade de escrever o que se passava captar com exatidão a revolta daquele adolescente. Não saberíamos afirmar adequadamente se o que o revoltava era a traição para com Abel ou a maneira que fora atacado. Talvez... Talvez... era a maneira que fora atingido. De fato, este jamais demonstraria que esta era sua raiva, eclipsando-a no fato do ataque ser de forma indireta contra seu pai Abel.
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