Athena Exclamation 2.0

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    Misty de Lagarto ~ Mouses de Free Willy

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    Misty de Lagarto ~ Mouses de Free Willy Empty Misty de Lagarto ~ Mouses de Free Willy

    Mensagem por Convidad Sex Abr 23, 2010 2:08 pm

    Ele acorda cedo. Mais cedo que o sol. A noite ainda se derrama sobre as cordilheiras como um bálsamo, e todo aquele aroma salgado e noturno o inspira para a sua solidão. Seus discípulos já não estranhavam sua conduta, e isso porque há mais de anos convivem com ela - com a ausência de seu mestre, nas quartas e nos domingos; com o seu retiro para as praias, com a sua caminhada ao lado de ninguém. Mas o que fazia ele lá? E que espécie de paz de espírito é essa, e que espécie de retiro fazia ele, enquanto todo o Santuário, tal como um animal acuado, eriçava-se, misto de medo e orgulho? E todos os boatos, e todas as vozes ocultas nas sombras da suspeita e da especulação, que ousavam criticar o papado de Ares? Não perturbava-se ele, tal homem fechado, que mais parecia a indiferente ressaca dos mares que tanto ama, com todo o caos que formas indefinidas ganhava? É claro que os discípulos de Kaitos, um pouco aflitos, questionavam-se, já cedo pela manhã, quando ele deixava os alojamentos, mas... Aprenderam, com o tempo, a aceitá-lo. A aceitá-lo em seus caprichos. Por muitas vezes precisaram defendê-lo de suas atitudes, mais precisamente do que elas davam a muitos interpretar, e sabiam, principalmente, ser inútil dissuadi-lo. Ele era, apesar de toda a aura pacífica que, nesses dias, envolvia-o, um grande teimoso filho-da-mãe.

    Neste momento, enquanto os primeiros dedos de Aurora cutucavam as pálpebras de Bálios, seu discípulo mais velho, Mouses estaria de partida. O garoto levantava, ainda sonolento, e ficava a observar a figura de seu mestre pela janela, deixando o alojamento entre as construções esquálidas do Santuário. Estava num andar superior; Ninguém ousara acordar ainda, e isso dava-lhe a impressão de que, de alguma forma, durante todos esses 3 anos em que esteve ao seu lado, lidara com um homem que não conseguia compreender.



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    "Eleanor, não se preocupe. Creio que hoje já estará sobre a água, ou amanhã..."



    Abaixo de seus pés, sentia a areia ainda úmida pelo sereno e pelas vagas. Em seus cabelos, o vento açoitava e assoviava... O cheiro de sal e de peixes, o barulho oco de conchas que o mar parecia trazer até seus ouvidos, aquela pequena frialdade que arrepiava os pêlos de seu corpo... De alguma maneira, sentia-se feliz. Olhava para a extensão dos mares, para a espuma desfeita, olhava para o sol, lentamente procurando o seu trono nos céus: era hora de trabalhar. Lavara as mãos, deixando que a gelidez encobrisse tais ferramentas essenciais com a força de que iria necessitar. Deixou que a água escorresse por seu rosto, tudo à fraca luz da urna de prata, descansada nas areias. Próximo dali, tinha uma pequena casinha: abandonada, machucada pela maresia, de madeiras brancas e descascadas. Mais para cima, além da encosta do litoral, fixava seus olhos na imagem, não de Poseidon, mas de Hermes, deus que admirava intimamente: dizia-se que ele protegia os homens que levavam mensagens para outros homens, bem como os navios dos mercadores e os poetas. Entrou na casinha, deixou que a luz penetrasse-lha, procurou suas ferramentas e toda a madeira que deixara protegida, abaixo de uma grande lona, sobre o que teria sido uma pequenina, mas simpática, sala de estar. Saiu, deixando que um longo suspiro escapasse de suas narinas.

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    "Hoje o mar 'tá de bem consigo mesmo... E eu acho que eu também."

    Não era poeta, nem mercador. Mouses era, tão-somente, um homem simples que vivia uma pequena obsessão: construir um barco resistente, que pudesse atravessar o mediterrâneo. Os motivos eram ignorados pelas pessoas que um dia contemplaram-no. Admiradas, sim, pela forma como o trabalho tornava-se uma comunhão com a natureza sagrada do mar; admiradas, sim, mas pela forma como as mãos dobravam a madeira, como as mãos manipulavam as ferramentas, como as mãos transformavam a natureza ao seu redor. Mas... Para quê um barco - apesar do admirável esforço que fazia? Afinal... Sempre que precisasse, o Santuário forneceria qualquer meio de transporte para qualquer parte do mundo. Porque diabos precisaria ele mesmo construir um barco? Um barco que nem seria de todo... resistente. Mouses, nesse instante, retira uma pesada lona de cima de alguma coisa espaçosa, alguma coisa extensa: com um movimento, revela-se ante seus olhos uma pequena metade daquilo que seu sonho idealizava, ainda que mal pintado, ainda que inacabado, ainda que repleto de feridas no casco ou nas bordas. "Essa madeira não serve", murmurava pensativo, enquanto procurava virar o casco para cima, afim de que a luz o ajudasse. Seus braços esforçaram-se para virá-lo; a areia proporcionava uma colisão "macia" contra sua superfície. Já depois de algum tempo o suor gotejava em suas têmporas.
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    Misty de Lagarto ~ Mouses de Free Willy Empty Re: Misty de Lagarto ~ Mouses de Free Willy

    Mensagem por Convidad Dom maio 02, 2010 9:06 pm

    Permitam-me, senhores, uma rápida introdução. Era verdade que o santuário estava sendo invadido por águas infaustas de um pandemônio. Este em uma guerra interna e externa parecia propício a soçobrar no futuro. Externamente combatia um inimigo que dizia o Grande Mestre ser uma farsa e no âmbito interno um exército de mentiras e tramóias de traidores que abalavam o santuário em todas suas camadas.
    Soldados descontentes com o Grande Mestre e suas ordens que começavam a perder a sensatez não demoraram a questionarem se realmente era a vontade de Atena. A própria moral não lhes permitia fazerem o que deviam sem questionarem ou quando tarde se viam perseguidos pela consciência. Então, traíram... Iniciaram pequenas sabotagens contra aquele corrupto santuário: sem grandes sucessos, todos punidos, mortos.
    O desgosto e a traição eram em todas as camadas. Não foram poucos os cavaleiros que tentavam se rebelarem e irem até o Japão lutarem ao lado daqueles meninos e da verdadeira Atena. Malgrado a situação muitos permaneciam fiéis à imagem do Grande Mestre: combatendo cegamente os traidores. O santuário ergueu uma rede de espionagem extremamente eficiente que lhe permitia prever e inutilizar não apenas os pequenos ataques dos traidores, mas capturá-los e matá-los – firmando pela força a palavra do Grande Mestre.
    Contudo, o santuário agora à deriva permanecia estável em sua bóia ditatorial de terror e morte; mas não a salvo do naufrágio até destruir aquelas crianças: que quanto mais resistiam mais motivavam os homens a se erguerem pela escuridão.
    ______________________________


    “Não me arrependo de nada: fiz meu trabalho e ponto final.”, pensou Misty. Esta era sua justificativa. Fiel à Atena e à causa. Obediência cega. Qualquer outra forma lhe despertava um misto de desprezo e repulsa física. Às vezes, – principalmente em momentos como aqueles – tentava entender aqueles homens, não, aqueles traidores. Estavam no santuário por um único propósito: defender a paz como portadores da justiça. Contudo, no momento crucial não apenas se negavam a cumprir seus papéis, suas obrigações como também traíam Atena.

    Suas mãos deslizavam sobre a superfície trêmula d’água deixando-a tingida por finas sombras de sangue. Conforme seus pés afundavam contra aquele chão oscilante e a maré adormecida lhe cobria o corpo sentia-se bem, limpo de qualquer impureza. A recentíssima lembrança dos cavaleiros e da amazona que havia matado lhe golpeava em vão a consciência. Mergulhou a cabeça na água e como fisgada a puxou para trás: jogando o longo cabelo amarelado para trás que salpicava o vento frio da madrugada com água que sob a luz da lua reluzia como pequenos pedacinhos de prata.

    Permaneceu por quase um quarto de hora imóvel com a cabeça pendendo para trás, observando a lua. O corpo úmido empalidecia pelo áspero vento frio da madrugada que lhe inundava as narinas com um típico olor marítimo.

    Os que conheciam Misty – além de sua incrível beleza – sabiam que não era um sujeito irritadiço, mas naquela madrugada senão pela beleza não o reconheceriam. Estava cansado de suas tarefas. Não as questionava, pelo contrário, as cumpria com máxima dedicação. No entanto, como qualquer homem de personalidade curiosa e “mimado” sentir-se-ia não apenas humilhado, mas enraivecido. Era poderoso, mas seus destinados oponentes não. Era natural se sentir indignado – por mais que fosse pela causa. Contudo, esta irritação logo se desfazia como fumaça em um vendaval quando Misty resgatava seu espírito ponderável e passava a concordar. Afinal, senhores, nada mais fácil e garantido que mandar um indivíduo forte confrontar um fraco. Isto se aplica de uma forma geral: uma lei perfeitamente volúvel e adaptável à situação.

    Bateu com a mão direita contra a água e deu meia volta – saindo do mar. Sentou-se ainda nu sobre a urna de tênue brilho contra o céu estrelado. Deixou que novamente o vento almiscarado de sal do mediterrâneo acariciasse seu corpo úmido e o arrepiasse. Sob aquele céu insondável sentiu uma agradável beatitude. Paraíso desabitado pela feiúra. Lembrou-se resgatando do baú de suas memórias um pequeno trecho de um livro e deixou que um sorriso de prazer crescesse em seus finos lábios caucasianos. Era perfeito e mais que a própria natureza: cuidadosamente erguida pela mão de Deus.

    Suspirou profundamente ao observar o horizonte já se tingindo de cores vívidas. Estava atrasado para o lusco-fusco. Vestiu as peças de sua armadura que estavam espalhadas pela areia, colocou a urna nas costas e saiu agora cabisbaixo chutando algumas conchas trazidas das profundezas pela maré. A verdade é que a inteligência do santuário – sem pormenores – acreditava que Mouses, amigo de Misty, pretendia trair Atena, fugindo do santuário. Por tal suspeita havia encarregado o cavaleiro de lagarto para investigá-lo.

    Fiel à Atena. Obediência cega. Obrigação justificável. Misty sabia que seu amigo estava “ausente” do santuário já fazia algum tempo – o que fortalecia o frêmito sobre sua lealdade. Mas isto não era justificável, pois Mouses era apenas um sujeitinho solitário... Lá estava ele.

    Os olhos claros de Misty adquiriram uma opacidade perturbável. Respirou fundou e rangeu os dedos nas alças da armadura. Olhou o céu de Anil e deixou que o próprio brilho do sol varresse aquela treva que se apoderava de seu coração. Beleza paliativa. Assumiu sua postura tão familiar e se aproximou: sorridente e confiante. “Que não seja verdade, pelo amor de Deus.”, pensou pesaroso.

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