[Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar esta imagem]
[Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar esta imagem]
Soldados descontentes com o Grande Mestre e suas ordens que começavam a perder a sensatez não demoraram a questionarem se realmente era a vontade de Atena. A própria moral não lhes permitia fazerem o que deviam sem questionarem ou quando tarde se viam perseguidos pela consciência. Então, traíram... Iniciaram pequenas sabotagens contra aquele corrupto santuário: sem grandes sucessos, todos punidos, mortos. O desgosto e a traição eram em todas as camadas. Não foram poucos os cavaleiros que tentavam se rebelarem e irem até o Japão lutarem ao lado daqueles meninos e da verdadeira Atena. Malgrado a situação muitos permaneciam fiéis à imagem do Grande Mestre: combatendo cegamente os traidores. O santuário ergueu uma rede de espionagem extremamente eficiente que lhe permitia prever e inutilizar não apenas os pequenos ataques dos traidores, mas capturá-los e matá-los – firmando pela força a palavra do Grande Mestre. Contudo, o santuário agora à deriva permanecia estável em sua bóia ditatorial de terror e morte; mas não a salvo do naufrágio até destruir aquelas crianças: que quanto mais resistiam mais motivavam os homens a se erguerem pela escuridão. ______________________________ |
Suas mãos deslizavam sobre a superfície trêmula d’água deixando-a tingida por finas sombras de sangue. Conforme seus pés afundavam contra aquele chão oscilante e a maré adormecida lhe cobria o corpo sentia-se bem, limpo de qualquer impureza. A recentíssima lembrança dos cavaleiros e da amazona que havia matado lhe golpeava em vão a consciência. Mergulhou a cabeça na água e como fisgada a puxou para trás: jogando o longo cabelo amarelado para trás que salpicava o vento frio da madrugada com água que sob a luz da lua reluzia como pequenos pedacinhos de prata. Permaneceu por quase um quarto de hora imóvel com a cabeça pendendo para trás, observando a lua. O corpo úmido empalidecia pelo áspero vento frio da madrugada que lhe inundava as narinas com um típico olor marítimo. Os que conheciam Misty – além de sua incrível beleza – sabiam que não era um sujeito irritadiço, mas naquela madrugada senão pela beleza não o reconheceriam. Estava cansado de suas tarefas. Não as questionava, pelo contrário, as cumpria com máxima dedicação. No entanto, como qualquer homem de personalidade curiosa e “mimado” sentir-se-ia não apenas humilhado, mas enraivecido. Era poderoso, mas seus destinados oponentes não. Era natural se sentir indignado – por mais que fosse pela causa. Contudo, esta irritação logo se desfazia como fumaça em um vendaval quando Misty resgatava seu espírito ponderável e passava a concordar. Afinal, senhores, nada mais fácil e garantido que mandar um indivíduo forte confrontar um fraco. Isto se aplica de uma forma geral: uma lei perfeitamente volúvel e adaptável à situação. Bateu com a mão direita contra a água e deu meia volta – saindo do mar. Sentou-se ainda nu sobre a urna de tênue brilho contra o céu estrelado. Deixou que novamente o vento almiscarado de sal do mediterrâneo acariciasse seu corpo úmido e o arrepiasse. Sob aquele céu insondável sentiu uma agradável beatitude. Paraíso desabitado pela feiúra. Lembrou-se resgatando do baú de suas memórias um pequeno trecho de um livro e deixou que um sorriso de prazer crescesse em seus finos lábios caucasianos. Era perfeito e mais que a própria natureza: cuidadosamente erguida pela mão de Deus. Suspirou profundamente ao observar o horizonte já se tingindo de cores vívidas. Estava atrasado para o lusco-fusco. Vestiu as peças de sua armadura que estavam espalhadas pela areia, colocou a urna nas costas e saiu agora cabisbaixo chutando algumas conchas trazidas das profundezas pela maré. A verdade é que a inteligência do santuário – sem pormenores – acreditava que Mouses, amigo de Misty, pretendia trair Atena, fugindo do santuário. Por tal suspeita havia encarregado o cavaleiro de lagarto para investigá-lo. Fiel à Atena. Obediência cega. Obrigação justificável. Misty sabia que seu amigo estava “ausente” do santuário já fazia algum tempo – o que fortalecia o frêmito sobre sua lealdade. Mas isto não era justificável, pois Mouses era apenas um sujeitinho solitário... Lá estava ele. Os olhos claros de Misty adquiriram uma opacidade perturbável. Respirou fundou e rangeu os dedos nas alças da armadura. Olhou o céu de Anil e deixou que o próprio brilho do sol varresse aquela treva que se apoderava de seu coração. Beleza paliativa. Assumiu sua postura tão familiar e se aproximou: sorridente e confiante. “Que não seja verdade, pelo amor de Deus.”, pensou pesaroso. |